sábado, 8 de outubro de 2011

Volta


Tela de Duffy Sheridan


Foi no limite de uma terra cáustica,
Dentro da zona do silêncio,
Que o teu corpo se desprendeu do meu.

Fui consagrada à eternidade,
E a sua solidão.
A voz que continha as palavras
Sacramentaram o meu coração,
Rezando sacrifícios.

Vi a transparêcia da distância
Que nos habitava.
Aquela parte, que nos ligava como um,
Perdeu-se na ilusão dos dias,
E a tua alma levou a minha.

Fiquei vazia como uma casa abandonada,
Por isso te peço:
Volta antes que a colheita se perca,
E a terra se torne envelhecida.

Volta a regar meu campo com tua alegria.
Traga teu corpo de frutos enlouquecidos,
E preenchas os espaços onde escureço.
Sê água lírica em minha boca,
Antes que meu sangue comece
A escrever nossos nomes.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Amor


 Tela de Andrew Wyeth

A cada dia esperei
Por um vento que me acalmasse,
Que abrandasse a brasa que ardia,
Pesando em minha boca.

Quieta, ansiava como louca
Tua boca sob a minha,
Para voltar a tremer.

O tempo virou tormento,
Esperando esquecimento,
Que eu queria ter em mim.

Indiferente, tu colocaste
Os dias em meu rosto,
Fazendo-me singrar
Num mar de lágrimas e dor.

Tornei-me cega e perdida,
Sem sua boca ferida
De beijos que dei em ti.

Por tudo que fomos um dia,
Só as lembranças não bastam,
Se trago no peito essa dor.
Tens que voltar com mãos de astro,
Marcando-me um lastro,
Numa linha de amor.