sábado, 26 de abril de 2008

Escalacrada

Tela de Salvador Dali


Paralelos que se encontram no infinito,
Sofrem desvios,
Chocam-se no tempo.

Arabescos interceptam linhas
Na solenidade do traçado.

É quase nada
Essa força que empurra.
Incômoda e insidiosa,
Surgindo de um universo deslocado,
Como uma energia pesada,
Brotando da consciência.

Meu corpo
Vibra com pensamentos.
Grita sons imaginários
Da idéia dissonante
De fantasia sufocada.

Vergo ao peso
Que a amargura trás
Ao arrastar o tempo.

Retrocedo e sou levada pelos ventos.
No turbilhão das disputas,
Finjo dormir
Para não ser achada.

Escalacrada sob os paralelos,
Na escuridão mais profunda,
Eis minha única certeza:
Sou só e nada é meu.
Termino meu passo,
Antes de conhecer o seu!



sábado, 19 de abril de 2008

Partículas de Sonho

Tela de Jacob Collins


Provei a doçura da brisa
Na manhã de nossa história.
Recolhi musgos,
Depois de sua chuva em mim.

Cobri nossos corpos,
Com a colcha pespontada
De folhas ardentes.

Bebemos do veneno de meu ventre
E um sabor fresco de chuva,
Deixou seu corpo doce,
Pronto para semear.

Partículas de sonho almiscarado,
Cintilam agora, irresistíveis,
Dentro de mim.

Espartilho

Tela de Ego Schiele


Inclino, declino
Na onda obliqua
Do seu balançar.

Espartilho na dobra,
Arqueia e desdobra,
Aperta o meu despertar.

Dedos de talhe,
Inquietos no entalhe,
Quer se vingar.

Dorso de ninho,
Desce em torvelinho,
Louvando um cantar.

Orvalho de sonho,
Desprende os laços
Que em volta, dá voltas.
Solta meu respirar.

Minh´Alma

Rachel Moraes by Bob Dimensten



Noite silenciosa de minha vida.
O ar que me têm,
Tomado de sono adormeceu.


Vago embalada pelo som do adeus.
Deixo-te como sombra minha,
Alma pássaro,
Clara, recortada de meu corpo.


Ser alado,
Réstia do melhor de mim,
Escuta que ainda sou eu aqui.


Dou-me conta que sou sombra
À partir de mim.

Vulcão

Tela de Dino Valls


Deixe-me falar do perigo
Que ronda minha pele,
Que arde e queima
Aos seus dedos de chama.

Desperto sob um vulcão enfurecido
E desço minha existência
No âmago de seu corpo.

Enrosco-me em fagulhas que saltam,
Penetrando em meus poros.

Estou cega,
Meus joelhos dobram-se à sua vontade.
Sou desfeita em gotas que se espalham
Com o calor de seu hálito.

Dou voltas e voltas
E de novo, queimo-me
Em suas mãos.

sábado, 5 de abril de 2008

Ilusão

Tela de Dan Thompson


Arte e sensualidade, juntas,
Caminham sob minha pele.
Estão ali, sob a alegria de ser.

Sou uma idéia, um desejo
Que crava dentes na vida.
Que sedenta,
Invade o espírito do mundo.

Vibro com a idéia de escorrer-me
No ritmo do êxtase das coisas
E sou música quando estou nelas.

Pontuo meus passos para o encontro,
Estou lá, sempre,
Na curva da alma.

Lanço-me às tintas coloridas
E escorro, quente e úmida
Em sua tela que respira e pede:
-Vem ilusão e se fixa em mim!