segunda-feira, 20 de abril de 2009

Fogo

Tela de Gustav Klimt



Meu mundo infla

Quando é você que o habita.

Uma intrincada paisagem

Desfaz-se porque você se manifesta

Arrebatando minha superfície.


Minha resistência se desvanece.

Sou vapor desenfreado,

Que gruda em sua pele

Quando você permite

Que minha incidente claridade

Invada seu pátio.


Entramos numa espécie de vertigem,

Numa convulsão perpétua.

Sinto seu hálito suspenso

Respirar dentro de mim.


Em nosso mundo clandestino

Reviramos num nicho de lençóis.

Banhamos cada manhã,

Com nossas gotas matizadas de sol.


Paralelo ao meu corpo,

Limítrofe de seu subterrâneo gozo,

Ressurgimos engastados

Em nosso fogo.

domingo, 19 de abril de 2009

Naufrago

Tela de André Toma



O naufrago tem um tempo alongado,

Constrói um lugar invisível.

Estrutura tentativas,

Teatraliza um drama,

Instala-se no centro,

Domina a instabilidade,

Desabando sobre si mesmo.


O horizonte trás o êxtase

Que se dissolve na praia.

É a promessa vazia de cada dia.


Sua liturgia exausta o inalcançável lugar

De onde veio,

Para oferecer-se numa ilha dentro dele.

domingo, 5 de abril de 2009

Abraçada ao Vento

Tela de Mira Schendel



Naquele dia
O vento fustigava
Trazendo um ar de noite.

Foi jogado fora
O que se temia.
Amarrou-se num saco
Toda a intimidade,
Cuidando para não haver contágio.

Não suportando
A sequência dos gritos,
Deu a ordem para mudar
À vontade dos elementos.

Sua vergonha
Ficou dependurada nos olhos.
Gotas caiam
Atravessando o cerrado dos dentes.

Afundou as facas
Projetadas dos seus dedos
Em minha garganta.
Quebrou as unhas todas,
Até o pálido do olhar
Cair no avesso do amor.

Desperdiçou-se em minha
Excentricidade
E não podendo mais fugir de mim,
Atravessou novamente a rua
Abraçada ao vento.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Anjo Guardião

Tela de Marc Chagall



Estou cansada de fugir,

Cansada de mentir

Que não sei de ti,

De tua presença constante.


Sinto teu hálito de ar em meu rosto.

Teu roçar de penas

Em minhas costas quando me deito.


Amigo dos meus dias,

De meu coração inquieto,

Da chama que arde em meu seio.


Ainda estas comigo,

Mesmo que te negue cada dia

E que te renuncie todas as horas,

O nosso encontro cada noite.


Agora já não posso mais te negar,

Tenho a alma embriagada de ti

E a quero ainda mais

Nesse estado de euforia.


Quero que meu êxtase se agrave

E eu me dobre a ti.

Que o espaço entre nós

Seja eterno.


Minha alma é criança novamente

Se estas aqui.

Tua luz é como espada

Enterrada em meu coração.


Agita o meu vestido,

Transpassa minha calma,

Cubra-me com tuas asas

De anjo guardião.