quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Serendipity

Fotografia de Nils Udo


Encontrei o ar,
Em andamento de crepúsculo.
Senti o encantamento súbito
De uma música andina,
E uma floresta se abrindo
Para o esplendor do Paraíso.

A descoberta do invisível,
Entre as folhas, foi o sinal.
Encapsulado, entre as sementes,
Nascia um deus humano.
O orvalho da manhã formava
Uma mandala de gotas,
Como um bracelete,
Indicando uma eternidade terrena.

A aurora penetrava no mundo,
Confundindo as ondulações do sol,
E esse deus do silêncio
Respirava a brisa fina do alvorecer.

Eu, possuída de ternura,
Desdobrei-me em gestos de grandeza,
Acolhendo-o com pálpebras
Em suspensão de lágrimas.
Ele me olhava em silêncio,
Mostrando-me coisas mais altas.

Sereníssimo, caminhava pelos jardins
Em forma de brisa.
Chispas de risos dançavam em sua boca,
Formando constelações.

Seus cabelos esvoaçavam
Enrolando-se em caracóis.
Refletia uma luz difusa,
Como um fantasma na febre do tempo.
Ocultava-se nas transparências esculpidas
Do espelhar das poças d’água,
E, dentro delas, imitava um campo de estrelas.

Navegamos juntos,
Num mar destinado aos sonhos.
Mas, cansado de ser deus,
Impenetrável no ar da vigília,
Levantou-se solitário
Aos pés da minha sombra.

Desvaneceu-se em meus braços,
Como um sopro divino,
Deitando-se entre os meus seios,
Como um menino.