
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
O Arco do Flecheiro

sábado, 18 de outubro de 2008
Encontro Marcado

Fui ao seu encontro,
Inevitável encontro.
Equilibrei-me numa
Geometria estranha.
Configurei o exato
De sua construção
Em mim.
Foi uma intimidade
De cortejo
E eu queria ser olhada.
Era uma linguagem
Precisa,
Que traduzia
O calor dos poros,
O sangue
Desvendando o pulso,
Antes que meu grito saísse.
Fiquei presa
Em sua boca projetada
E nenhuma palavra
Foi capaz de dizer:
Não...
Para esse
Encontro marcado.
Represa
Minha garganta seca
Assimila a água de tua boca.
O meu olhar
Cruza o teu oceano
Marcando a distância do encontro.
Moléculas de ar
Rasgam minha boca
Que represa tua saliva salgada.
Uma necessidade
Preenche meus lugares secretos.
Entorpecidos se deixam penetrar.
Você abre caminhos
Sem resistência.
Traço um rumo
Confirmando nossa existência.
Derrubo a comporta
Que te represa.
Sou esculpida
Por tua água renovada
Enquanto você se dilata
Para estancar-se em mim.
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Voltando para Casa

Terminaram os seus dias
E ainda não tinha visto
Todas as coisas.
Não viu escrito
Em nenhum lugar
Que a hora era chegada.
Que a partida se preparava.
Atravessara o campo santo
Tentando esquecer a vida.
Foi arremessado bruscamente
A uma onda de vapores
Que apagava seu rastro.
Agora tinha que lidar
Com a noite de seus dias.
Sentia uma compaixão abundante
Ser derramada sobre ele.
Seus infortúnios
Já não mais importavam.
Eram absorvidos
Por essa nova emoção
De bem-aventurança.
Ali, no meio daquela súbita claridade,
Rompia-se o fio que o prendia aos dias.
Seus olhos não mais ardiam.
Sentia uma ternura imensa
Por tudo o que via.
Rejuvenescia num novo corpo.
À medida que caminhava,
Reconhecia pessoas que foram suas.
Sentia que uma paixão ardente
Brotava de seu coração.
Emergiu com todo ardor
A essa nova emoção.
Podia contar com imensa felicidade,
A todos que encontrava,
Que estava voltando para casa.
A Voz

Fiquei olhando as palavras saírem de sua boca.
No começo você forçava uma animação.
Elas iam se amontoando no canto da boca,
Até se soltarem numa fluidez nunca vista.
Eu me incorporava no som de sua voz,
Já não estava mais presa ao que dizias,
Mas por vê-las se tornarem pássaros,
Voarem livres e
Rodopiarem no céu de sua boca.
De repente, impondo uma disciplina,
Virava um murmúrio,
Que de tão suave fundiam-se no ar.
Naquele silêncio de palavrinhas engastadas,
Assustei-me com minha urgência
Em querê-las para mim.
Sua boca celebrava meu desejo.
Que solenemente pedia em dialeto.
A voz suplicava uma energia,
As palavras apenas emergiam
Em chamas reluzentes,
Engasgando nas pausas,
Afundando como brasas.
Até que decidiram partir
Mudando-se para a minha boca,
Que ardia por lhe falar.
domingo, 12 de outubro de 2008
Eterna Primavera

Agora sou
Uma estrada pontilhada.
Caminho sozinha
Buscando o paralelo
De minha existência.
Existo em mil maneiras de viver.
Vou observando meu congelamento
Na eternidade impossível.
O fio que me separa
Desse estado de ser
É súbito, não posso rompê-lo.
Vou de encontro,
Ao único lugar
Que é quase um jardim secreto.
Lá, encontro minha primavera.