quinta-feira, 27 de maio de 2010

Fiquem de olho nela!

sábado, 1 de maio de 2010

Palco

Foto de Marta Ferreira


Ando sob águas turbulentas,

Afundando na solidão com passos pesados.

Penhascos escuros surgem como recortes de papel

No teatro montado.


Estranhamento é o que sinto dentro da pele

Deste personagem que visto.

Dou franca entrada ao desconhecido

Que insondável, tateia a bilheteria de meu peito.


Tento o esquecimento, a inconsciência,

Para obter uma redenção.

Mas é na escolha da peça

Que recai a dor insuportável,

É na memória dos primeiros dias,

Onde a música era ouvida pelo coração

E não precisávamos das máscaras.


Puxo a cortina e descubro que ali,

Na primeira fila, ainda me esperam,

Com ansiedade e surpresa.

Posso ver no rosto do coração jovem

O brilho do “primeiro olhar”.

A Tecelã

Tela de Marcelo Tanaka


Minha juventude parte com dentes cerrados.

Riscaram meu nome do livro dos vivos.

Entrego-me às chamas rodopiando

Convulsa entre as labaredas do destino.

Língua de fogo acelerada, lambendo

As breves lembranças.


Sou devorada pela luz das chamas

Que se alastram apagando o que fui.

Sou derramada como água de um jarro.

Vou retorcida, esmigalhada pela foice negra.

Coberta num manto de morte,

Abraço meu inverno com pesar e incerteza.

Sigo na aridez da noite temporal,

Que marca o fim das horas.

Dentro do nada evoco o começo de meu tempo

De borboleta menina.


A tecelã do destino sopra em meu rosto,

Como um anjo, sua força de tecer sementes.

Arma-me de volúpia e vontade de querer ser.

Prepara os fios condutores do tear,

Fazendo-me deitar nesse espaço de novelo.