
O vento transpassa-me
Com sua língua afiada
Meu sangue congela
A sua passagem.
Levanta meu vestido
De musselina branca
Descolando suas
Rendas brocadas.
Aventura-se em meus lábios
Que pedem misericórdia
Por ficar sem fôlego.
Todas as curvas do caminho
Deixam-me no centro
Do redemoinho.
Tudo fica sem margem
E eu parada, no meio dele, pensativa.
Suspiro minhas queixas
Ao espírito do ar de gelo,
Ele se deita cobrindo-me com preces,
Consola-me com gotas de brisa.
Olho o horizonte enevoado
Sentindo esparsas figuras inumanas.
Formam à minha frente
Uma concha cristalina de ar.
Ouço um leve murmúrio adormecido,
Uma voz sem rosto
De imensa ternura que me diz:
Vem, vem ver o silêncio dormir
Sob as planícies
E teu corpo inundado de amor.
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