Fotografia de Gerhard Richter
Ela não podia mais deixar
As palavras soltas pela casa.
Eram palavras ocultas
Que queriam surgir.
Seguiam-na como soldados,
Desfilando, implorando um lugar
Num poema qualquer.
Queriam ser invocadas
Por alguém que ama,
Que clama por uma lua.
Como pisca-piscas giravam
No alto da sala,
Perdiam o rumo do papel
E se instalavam numa província
Ao lado da escrivaninha.
Conspiravam entre elas.
Esperavam a inspiração chamá-las.
De repente, o céu se mexia delicadamente,
Juntando nuvens de algodão.
O violino tocava a ária da espera e
Ela dançava dentro da moldura do retrato.
As folhas se juntavam alinhadas
E as palavras enlouquecidas
Organizavam-se entre elas.
Dentro de uma visão matizada
De encantos obscurecidos,
Saltavam aos punhados
Defendendo seu pequeno espaço.
Enroscavam-se em suas idéias lascivas
Perdendo-se em lençóis, flores, beijos estrelados.
Até, finalmente caírem
Sob a folha em branco, esgotadas.
Premiado pelo Concurso de Poemas da PP.
Premiado pelo Concurso de Poemas da PP.
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