Tela de Cornelius Gijsbrechts
Ainda não te falei tudo
Sobre a medida do vento e da água.
De onde guardei na memória
O segredo da sede cristalizada
E da lembrança da saliva densa.
Não te falei do cometa de fogo,
Que serpenteia o céu de minha boca,
Embriagando-me na realidade
Dos teus sonhos.
Não te falei do trovão que não demora,
Que se faz música e grita,
Rechaçando sob o medo dos homens.
Do verão escaldante que entra na derme,
Apunhalando a pele frágil,
Transformando a seda em débil folha seca.
Não te falei sobre o temor das horas.
De como elas correm pelas janelas dos olhos,
Opondo-se ao querer do sono imperturbável.
Sobre a noite que engole o dia,
Esparramando sua luz difusa,
Escondendo as vontades sombrias dos amantes.
Não te falei das canções da alma,
Das que nos levam a habitar tendas,
A procurar espadas e consolar princesas.
Não te falei do que se esconde
Sob as ondas dos meus cabelos,
Das tempestades que ali brotam
Depois de lhes colocar promessas.
Do uivo dos loucos que se dizem poetas.
Que andam em nuvens e se acham pássaros.
Do vinho que fiz virar sangue quando te beijei.
Do escudo de dentes cerrados
Opondo-se a todos esses dizeres que fiz para ti.
Um comentário:
muito bem pensada a alma das últimas palavras que nos trazem à realidade... gostei muito da bala rasgando incorruptível o som dos "atos"!
bjuz e parabéns!
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