domingo, 20 de julho de 2008

Cosmo Caiado

Tela de Edward Robert Hughes


Eu o vi num tremor de folhas,

Quando estava no jardim.

Senti um hálito, uma caricia,

Um recado do passado.

Algo soprava em meu ouvido:

Onde se pôs o sol de nossa mocidade?

Insetos noturnos salpicam a luz da noite.

Volto ao tempo das carícias nos jardins,
Do lusco-fusco das tardes de verão.

Lá, onde você estava comigo,

Onde tinha um cosmo caiado

A brilhar dentro de mim.


De repente, as partículas se dissolvem,

Você se foi, está lá, atrás da dobra do tempo

E eu aqui, a buscar-te.

Casanova

Tela de Dino Valls



Quantas terei de provar

Antes de me tornar teu?

Que gosto terá o véu de Cemíramis,

Quando descolar de tua pele?


Guardarei cada gota

Decantada dos gritos de teu prazer

E me banharei no sândalo de teu corpo.

Dobrarei cada folha de pergaminho

Que contará nossa torrencial história.


Guardarei em potes de mármore,

A seiva brotada de teu corpo.

De ti me lembrarei em noites frias.

Curvado estarei em chão de pedra,

Buscando algo que não existe mais.


Rezarei por cada suspiro teu,

Pelo vulto que surge na penumbra da noite.

Amordaçado estarei pelo desejo,

Que se arrasta pelo meu corpo,

Que cobre o leito branco,

Entra pelas cobertas

E penetra entre minhas coxas.


Cemíramis, desejo do meu corpo,

Cobre-me com seu manto aveludado,

Derrama o teu mel em minha boca,

Para que eu possa beber

Nas dobras de minha angustia.


Sem você, sou nada nesta cama de espinhos.

Vou, eternamente sonhando,

Buscando em outras, tua rosa rubra.

sábado, 12 de julho de 2008

Estrela

Tela de Arthur Hacker


Quando te vi, como um sol faiscante,
Emitindo irradiações,
Não sabia de sua existência estelar.
Lá, na orla do universo
Sacudias o manto de sua vida.
Querias surgir para nós
Deixando-se escorrer
Em minúsculas partículas de luz.
Surgiu irrompendo-se da névoa
Do universo
Para viver entre nós.

Agora, ri de si mesma
Entregando-se à sonhar
Um mundo reluzente,
Pleno de seu desejo
Em colorir este lugar.

Capta as cores do cosmo
Transformando-as em vestes diáfanas,
Que resplandecem nos mortais.

Mãos de fada a tecer sonhos,
A enrolar-se em nuvens de seda
Desprendendo de si,
Partículas de pó cintilante
Fazendo de nós,
Seu raio de luz.

O Espero em Mim

Tela de John Whaite Alexander



Vê! Não cabe a mim,
Mas só a ti aparecer,
Se não vieres logo
Aquela que é, morrerá.
Eu o espero em mim.
Sinto teus pensamentos,
A flutuar nos meus.

A insônia profunda me espreita,
Nenhum sol vai atrapalhar minha vigília.
O manto da noite se descobrirá,
Porque agora eu sei
Que não sou eu em ti
Mas tu em mim me chamando!