sábado, 24 de maio de 2008

O Festim

Tela de Zdzislaw Beksinski


Cubistas realistas
Penetram entranhas,
Invadem veias, células,
Transmutam matéria palpitante.

Intensa cor de cidade morta,
Dilacera entranhas,
Consome o verde escondido
Que oferece meu coração jovem.

Capturador de almas
Irrompe carnificina,
Draga flores do meu jardim.
Meu sacrifício é inútil
Nesta guerra devastadora.

Traço trincheiras,
Faço ressurgir corpos imolados
Numa dança macabra.
O espírito sublime surge
Procurando sua própria sombra.

Eu, missionária de mim mesma,
Nesse festim diabólico
Danço na plataforma
Da geração perdida
A canção da vida perigosa.

Sou uma torrente,
Girando num sapateado louco,
Grito aos quatro ventos:
Quem mata
Não participa do banquete.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Mãe

Tela de Gustav Klimt


Quando eu ainda não era,
Tu estavas ao meu redor.
Flutuava em águas mornas
Sentindo-te tecer meu existir.

Mergulhavas-me num remanso
De pétalas inocentes.
Mãos de conchinha a tocar-te,
Ansiando novelo de lã do abraço.

Sonhávamos tu e eu,
Botão de rosa a nascer.
Acomodavas teu ventre
No regaço de ternura,
Quando me alongava da ventura
De te ter perto de mim.