sábado, 21 de agosto de 2010

Canção dos Amantes

Aquarela de Galina

Há um silêncio grudado em mim.

Círculos se fecharam em meu corpo.

Contaria-te com minhas palavras,

Sobre esse desassossego em minha boca,

Se elas não estivessem afogadas.


Sei que meu ser sucumbe

Ante esse futuro iluminado

Que me apontam.


A Terra estremece quando digo

Que não mais andarei por ela.

Fogem de mim os que vieram buscar-me,

Porque leram meus pensamentos

E eu não me lamentei na sua língua.


À noite irão cantar a canção dos amantes,

Porque fui à causa de muitas aflições.

Minha natureza ensolarada

Cobiçou muitos amores, mas não pude estar,

Na solicitude de todos os desejos.

Destino

Ilustração de Nicoletta Ceccoli



Estava sendo conduzida
Por uma voz oculta.
Ainda vivia numa cela
Acolchoada de heras.

A relva brotava
Em baixo dos meus pés
E eu podia ver pela janela
O voo migrante dos pássaros.

Queria matar essa que está aqui
E sair com eles voando sem pausa.

O destino me cortaria em pedaços,
Mas eu iria sem ouvir meu inquietante
Inquilino, consciência.
Iria com os pássaros,
Pequena cicatriz rasgando o céu.

Daria uma visão surrealista
Ao pintor descuidado,
Que veria uma urdidura prismática
Em sua tela azul.

Vejo que deixei a casa vazia, morta.
Só volto depois que o destino me encontrar.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Tua Fonte

Tela de Roberto Rubalcava



Minha sede de ti é maior

Por não poder bebê-lo.

Invoco tua fonte para essa sede insana.

Renuncio minhas asas por um cálice

Dessa tua água impossível.


Vou com o vento atravessando raios.

Vou para dar-te minha boca,

Meu colo de represar água cristalina.


Meu corpo pede um escultor

Que saiba talhar um jarro

E você foi o escolhido.


Sou esculpida pelo vento

Que atravessa minha pele, enquanto

Lascas se soltam como folhas secas.


Cada dia uma insondável vontade

Penetra em meus poros

E eu penso ter em mim

Tua água e tua fonte.