domingo, 31 de agosto de 2008

Destino


Tela de Von Gogh



Deixei-me estar

Ao longo dos mistérios,

Fiquei na perplexidade das coisas,

Na metafísica do universo.

Amei cada objeto, cada instante.

Vivi as incertezas dos labirintos.


Para além de meu ritmo

Respirei as constelações

E na orla de meu destino

Um mistério descansa.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Desejo

Tela de Egon Schiele



Vem e sacia-me

Desta fome estranha,

Que cresce e possui-me.


Vem alimentar-me

Daquilo que excede,

Que é bem maior

E que me impele a ti.


Já não me basta

Esse alimento que

Quer-se sempre mais!


Meu desejo é chama

Que arde eternamente,

Que vem de não sei onde,

Que não tem fim nem começo,

Que está aquém de mim.


Disseco-me

Arrebato-me em ti,

Que fomenta o meu desejo.


Atenda-me agora

Tirano enigmático,

Interpreta-me com seus dedos,

Com suas interrogações,

Que incendiarei para ti.

O Crepúsculo

Ilustração de Kael Kasabian


A sede em minha garganta

É um metal de corte,
É uma voz que grita
Sobre o crepúsculo da morte.

O hálito do tempo
Trama o inconcebível.

Um rio de espadas

Empunhando gritos,
Crava sob meu corpo branco

Um delirante rito.


Aquele que chama

A aurora exangue,
Num clarão desponta

Rasgo de meu sangue.


A noite perdida

Dos meus dias findo.

Invade o tempo

Fixando sombras,

Para além de tudo,

Para além da vida.

sábado, 9 de agosto de 2008

A Letra

Tela de Edward Robert Hughes



A letra me alerta.

Abro cada palavra

Com faca de ponta.

Afino o som com golpes

Até chegar nos ossos.


Não encontro leveza nas palavras,

Mas restos carcomidos de tinta seca.

Decupagem de pedaços recortados

De meus sentidos inexatos.


Furto velhos hábitos

Costurando um fio

De linha tinta de sangue,

Que exangue,

Um perfil desesperado.


Encontro palavras efêmeras,

Que renunciaram esperanças.

Raspo cada letra com cacos de vidro.


Enxergo mensagens ocultas

Que suspiram na folha cortada.

Escrevo novamente a dor,

Com letras de silêncio.