sábado, 3 de dezembro de 2011

Tecendo a Solidão




 Tela de David Edward Linn

Estive a decifrar enigmas
Em folhas soltas de teu livro sagrado.
Desvendei o labirinto de tua estranha linhagem.
Descobri que o rumor áspero de tua voz
Vinha do silêncio e da amargura.

Inconcebível grito de menino,
Pássaro perdido, de asas cortadas.
Falavas em meu ouvido sobre flechas desnorteadas,
Que riscavam o céu da noite.

A cada dia, tentei arrebatá-lo da sombra sinistra,
Das páginas cheias de lembranças de mortes,
E das trevas que escondiam vultos proscritos.
Mas seu coração se escondia num sótão em ruínas.

O teu corpo era um balançar de junco,
E a meia-noite era o melhor de teu dia.
Levei-te ao canto aconchegante dos carinhos,
E vi as estações estivais passarem sem ti.

Fui negada, à porta de tua tenda,
Quando te trazia um campo de estrelas.
Vi tuas armas suspensas, mostrando o fio das espadas.
As flores que havia deixado para ti caiam arrebatadas
Pela falta da água primordial.

Durante todo o tempo que te falei,
Tua sombra de pássaro andava pisando inconstâncias.
Caminhei pelas galerias secretas de tua alma,
E aprendi, ao longo do tempo,
A tecer contigo uma mitologia de solidão e espanto.