Fotografia de Gregory Crewdson
Uma corrente raivosa
Arrastava pedaços de pensamentos
Enquanto a escuridão descia
Sob nossos corpos.
Guiei-te até a alma das coisas
Com a líquida certeza
De estarmos rodeados pela noite.
Clamei, desesperada, que preenchesses
Meus braços, que me fizesses feliz.
Não foi o que tive dessa sensação,
O que aconteceu foi encontrado
Num pântano escuro,
Negro jardim de lâmpadas apagadas.
No céu, as nebulosas dançavam
O fim das despedidas.
Mostravam-se, num vai e vem ondulante.
Falavam-me para eu ser dança nos braços teus.
Deixo o vagar solitário nas trevas,
No fundo noturno do tempo.
Lá onde a terra escura se esconde,
Eu enterro nossa chama.
Mesmo morta ela voltará ao nosso corpo,
E se fundirá noite adentro.
O indecifrável mistério da busca,
Onde os rumores da semeadura
São gemidos no centro da zona mais escura.
Onde se reza ao divino,
Ao cosmo e ao sentimento humano.
Mergulhamos absolutos,
Dentro de um espantoso engano.