terça-feira, 29 de junho de 2010

Concha Cristalina

Tela de Donato Giancola



O vento transpassa-me

Com sua língua afiada

Meu sangue congela

A sua passagem.

Levanta meu vestido

De musselina branca

Descolando suas

Rendas brocadas.


Aventura-se em meus lábios

Que pedem misericórdia

Por ficar sem fôlego.


Todas as curvas do caminho

Deixam-me no centro

Do redemoinho.

Tudo fica sem margem

E eu parada, no meio dele, pensativa.


Suspiro minhas queixas

Ao espírito do ar de gelo,

Ele se deita cobrindo-me com preces,

Consola-me com gotas de brisa.


Olho o horizonte enevoado

Sentindo esparsas figuras inumanas.

Formam à minha frente

Uma concha cristalina de ar.


Ouço um leve murmúrio adormecido,

Uma voz sem rosto

De imensa ternura que me diz:

Vem, vem ver o silêncio dormir

Sob as planícies

E teu corpo inundado de amor.

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