segunda-feira, 23 de março de 2009

Dilúvio

Tela de Gustav Klimt


Líquida me tornei em teus braços,

Escorri-me no que era exato,
Derramei-me em teu dorso quente,

Que se dobrou em concha a me represar.


Procurei fendas, escoei regatos,
Encontrando braços a me amparar.

Derrubei barreiras, modulei mil voltas,

Até ser inteira em um jarro teu.


Fui bebida aos goles de quem febre ardia

E foi tão nascente essa sede louca

Que senti sua boca, eterno sugar.


Num fervor que pede, consenti respingos,

Dessa minha água eu fiz derramar.
Evaporei gotas ondulando pele,

Escorri-me em névoa para te alcançar.


Penetrei abismos e fui sacudida,
Até dissolver-me neste teu olhar.

Escoei doçura num último espasmo

De êxtase líquido, por te abraçar.


E virei dilúvio, encharquei-me em brasas,
Implorei tua boca para me beijar.

Tive o paraiso, bolhas de espuma,

Agora estou quieta neste teu olhar.

3 comentários:

Anônimo disse...

Eu adoro ler os seus poemas.
São tão delicados mas tão fortes.

lupuscanissignatus disse...

a

lique
facção

do

olhar


[rio de
deslumbramento]

Unknown disse...

Isso é lindo!!!