domingo, 13 de março de 2011

Desvario

Tela de Zeljko Djurovic


Brota um desvario de caminhos.
Uma exausta paisagem sem seiva
Mostra-me uma sombria encarnação.
Soberana visão ardente e silenciosa,
Dilacera em dores no limiar da vida.

Escuto o chamado das estrelas guardadas.
Brilham para os seres inanimados,
Que esperam o chamado da dança.

O horror dessa noite trouxe
Átomos aflitos.
Invadiram o mar com perplexos gritos.

O inferno é absoluto,
Sobrevoam corvos sob o oceano,
E aterrisam como num rito.

Orfeu canta a Terra agonizante
Aos seres desse nevoeiro imenso,
A canção cabalística da morte.

O coração segue em desespero
Desfazendo-se da obscura forma humana,
Na busca do imperceptível e infindável Nirvana.

Onde esconderam o refúgio seguro?
O que vejo são os cinco elementos,
E a morte me aniquilando os sentidos.

Que a solidão tenebrosa e fecunda,
Durma sua noite mais profunda,
E esqueça o desvario
De quem viveu de saudades.

A dor maior se apresenta,
Com a privação de quem se ama.
A alma fica perdida, a suspirar deserdada.

O tempo dos ângulos agudos
Refaz-se em riscos incisivos,
Cortam como lâminas um ácido de gume,
Destroçando os aflitos amantes.

14 comentários:

Anônimo disse...

A canção cabalística da morte.

Vais disse...

Saudações, Rachel,
lindas as suas fotos, me levou a um outro tempo.
Grata pelas palavras e visita.
Tudo por aqui é tão intenso e profundo, que ler uma só vez não basta, e fico admirada.
'o que cintila em mim", muito bonito
voltarei e levarei para por onde vão meus olhos
beijo

Liza disse...

Estou apreciando esse seu cintilar!
Sinto os reflexos dele em mim.

BJIN

efa disse...

una visión apocalíptica en la poesía
Besos!

Bípede Falante disse...

Impactante vocabulário. Explosivo, ácido e paradoxalmente confortante.

A.S. disse...

Deliciei-me no desvario do poema!
Na lâmina das palavras os amantes amam-se ainda mais!...


Beijos,
AL

A Designer de Joias disse...

Vim agradecer sua gentil visita Raquel, amei seu Blog e já sou sua seguidora.

Sônia Brandão disse...

Somos mesmo filhos da dor. Mas podemos transformar a dor em alegria.

bjs

lídia martins disse...

Seu poema caiu como uma adaga abrindo velhas chagas...

E o que sabemos nós desses dias em que os estados de espíritos andam por aí sem nenhuma fé macerando sucos de mágoas? Não dá para sustentar o corpo quando a alma vai embora. Seja lá o que for, não feche a porta totalmente, por favor. Tente deixá-la apenas encostada.


Te abraço com ternura.

O que Cintila em Mim disse...

Que a solidão tenebrosa e fecunda,
durma sua noite mais profunda,
e esqueça o desvario dos homens que massacram a terra e os seus semelhantes. Que o egoísmo não prevaleça sempre.

Eu deixo a minha porta sempre aberta, mesmo correndo o risco de me deparar com o demolidor de sonhos.

Regina Coeli Carvalho disse...

Deixando meu abraço pelo Dia Nacional da Poesia.
Que você continue cintilando a vida com seus versos.
Meu afeto.

Anônimo disse...

Querida poetisa

eu é qeu quero te abraçar forte e te agradecer pela beleza que espalhas com seus poemas

Tudo que cintila em você Raquel, reflete em nós que temos o privilégio de te ler

Beijos!

Helena Coelho disse...

Rachelzinha, continue brilhando como as estrelas!Vc escreve lindamente!
Bjs

Paulo Roberto Wovst Leite disse...

Dançando sobre esta lâmina...