sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Fortaleza




Tela de Odd Nerdrun

O lugar que ele me deixou
Era feito de granizo petrificado.
Fortaleza que me escondia das feras.
Cauteloso, ele foi todos os dias
Que me guardou.

O bosque em volta era apressado
E adensava toda à volta dos muros.
Como um mercador de pedras preciosas,
Tinha em mim sua pérola rara.

Todas as noites, pendurava a lua
No firmamento e eu a sonhava.
Os muros eram manchados de sangue,
Para enganar salteadores,
Que imaginavam ser ali
O templo da sorte.

Fora das paredes ouvia-se sempre
Uma arenga guerreira,
Que desfolhavam árvores de cristais.

Dentro, uma lunação poética,
Que se espalhava pelos ladrilhos,
Enquanto eu andava
Tamborilando meus pés
Nas lajotas desenhadas
Pelos sacerdotes.

Ele recebia de meus lábios,
Em rituais de pompa,
Promessas seladas com
A água maleável de minha boca.

Um brilho refulgente
Nascia de seus olhos,
Quando era envolvido
Por meus braços de cristal de rocha.

Era a eleita de seus sonhos
E me coroava toda à noite
Com seu canto acasalador.

Fazia em mim furacões e recebia
Um retumbar ondulante de gemidos.
Eram noites adamantinas, atormentadas,
Como num chamado de guerra.

Estar ali era como viver num
Planeta jovem.
Sentia esse flecheiro de dardos fulminantes
Perfurar-me constantemente,
Até deixar o Monte de Vênus
Em tremor galáctico.

A colina de frutos sagrados,
De polpa adocicada,
Era açoitada pela língua sanguínea
De escorpião rei, dia e noite.

Noites divinas, onde a chuva se empoçava
Naquele lago profundo.
Dali nasciam os nomes sagrados,
Recitados pelos deuses enlouquecidos.

Fazia brotar de mim o fogo consumidor
De madeira nobre.
Enquanto dele saia o canto de guerra,
Que interpretava a dança das chamas,
Apagando-a com sua resina branca.

Um comentário:

Arnaldo Leles Ferreira disse...

Profundo, muito belo Rachel!
Abraço!