domingo, 26 de dezembro de 2010

A Porta


 Ilustração de Donato Giancola


Ela estava quieta.
Olhos brilhantes, talvez antevendo
O que veria quando a porta se abrisse.
A voz dele se acumulava em caixas
No seu coração.
Uma presença perfeita,
Imponderável, abriria sua porta,
Transpassada de ternura.

Seria salva, mas, por mais que relançasse
Olhares para a porta dos sonhos,
Ela permanecia cerrada.
A roda do destino girava,
Enquanto um cântico longínquo
De vozes celestiais dizia para esperar.

Uma luz sobrenatural
Mergulhava de seus olhos para o vácuo.
Tinha a alma plena de certezas
E pressupunha sua volta.
Estava presa nesse movimento imperceptível
Que se precipitava a porta e a ele.

Sua voz ressoava pela sala
E imagens extraordinárias se formavam,
Tirando sua tranqüilidade.
Sua noite estava cheia de fagulhas
Crepitantes e vapores densos.

Quando viu os raios do sol
Entrando na sala,
Caiu envenenada por vertigens,
Terminava sua espera, embriagada e só.

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