segunda-feira, 11 de junho de 2007

Em Torno

Fotografia de George Ghio

Escrevo seu poema
E de repente
Estou escorrendo do papel.
Acabo de morrer.
Fico pairando no ar
Querendo precipitar-me
Para dentro de mim mesma.

Aquelas raízes
Que me prendiam ao chão,
Soltaram-se.
Meu coração se foi,
Prendi-me neste licor de limbo
E aqui estou.

O som é-me inexistente,
Mas sinto o gosto do barulho.
Morri numa letra atroz de seu poema
E acordei fora de mim.
Agora pairo no ar ofegante por ele.
Concentro-me na linha escura
Da letra rompida.

As palavras do poema embaralham-se
Tentando dizer-me algo.
Espanto-me com esse redemoinho de letras.
Vou entrando pelas dobras das coisas,
Escôo-me inteira dentro do papel.
Nada mais me importa.
Escorrego-me entre as linhas paralelas
E oxido-me vermelho sangue.



Nenhum comentário: