domingo, 6 de maio de 2007

A Deusa e o Menino


(Desconheço o autor do desenho)

 

Inútil tentar descrever o tanto do quanto vi
Na estampa exuberante daquela deusa de folhas
E pele tostada de sol.

Ela era luz de encantamento e esplendor.
Seus olhos como o sol,
Alcançavam os lugares escondidos.
Lambia cada brecha com sua língua de fogo.

A boca como um vulcão,
Combinava confluências de água e céu,
Céu e terra, modificando suavemente
O meu querer.

As palavras soltavam-se como fumaça,
Os cabelos eram como a selva verde,
Ondulantes, onde pássaros e frutos,
Perdiam-se num enxame de cores.

Seus seios eram dois montes
Marcados num mapa.
Um vale profundo entre eles sinalizava
A relva do paraíso.

Deslizei tudo aquilo,
Tentando descer, temendo,
Com medo de ficar preso naquele
Espaço quente e perfumado
E não querer mais sair.

Rasguei o véu de torpor que me encontrava
E desci tateando a suave maciez de montes e vales.
Senti a redondez de cada pomo
Que se me oferecia suculento e doce.

Deitei nessa paisagem de lago,
Numa água clara que refletia como um espelho.
E lá onde se fechava o vale das tormentas,
Desci mudo, enroscando-me enlouquecido,
Embriagado pelo perfume da noite mais profunda.

Ali onde tudo era invisível
Onde meu guia era o olfato
E o gosto uma delícia inexplicável,
Cantei e dancei nesse enigma,
Nesse regato quente e úmido como o universo.

Conheci o templo das vertigens,
Apredi a arte de mudar
O vapor de meu hálito em sonhos.
Agora adormeço verde e fresco como um menino.

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