quarta-feira, 30 de maio de 2007

O Arquiteto

Ilustração de William Blake

Entediado, em sua particularidade,
Deus esboça os primeiros desenhos
Feitos a nanquim e lápis de cor,
Esfumaçando, aqui e ali, os contornos do Paraíso.

Sem nenhum cálculo, dentro de sua genialidade,
Seu plano criador foi se esboçando com primor,
Nascendo ali, o maior mito de todos os tempos,
O Arquiteto do Orbe Estelar.

Aquele, que nos confins do firmamento,
Esculpia uma pequena joia, que chamou de Terra.

Ele foi o primeiro a perceber o alcance de sua obra,
Mas ainda não estava satisfeito, queria algo grandioso.
Com a modéstia de todo arquiteto, 
Aspirou em sua Gênese,
A possibilidade de um ser igual a Ele.

Começou então, um processo de pesquisas.
Buscou materiais adequados à obra de seu sonho.
Os primeiros esboços mostraram uma forma singular,
De estilo e articulações engenhosas.
Verdadeira herança para o seu sonho terrestre.

Aproveitando o bem sucedido desenho,
Põe o projeto em execução.
Usando a melhor argila de oleiro mestre, começa.
A idéia era enquadrar esse plano de réplica,
Fazendo-o atuar como zelador do Paraíso.

Tira então, de seu glossário secreto,
Uma imagem de homem de semblante
E formas semelhantes a Si.

Estando este ser vazio e sem linguagem,
Enche-o de sopro e de vontade.
Por muito tempo, ele foi seu companheiro,
E sua sombra por longos dias.

Percebeu que esse homem se pôs a fazer prodígios.
Atuava no Paraíso como um perfeito inventor.
Ele se sentia pleno de liberdade 
E conhecia a face de Deus.
Era dono de cada árvore, e bicho inventados,
Cada rio, montanhas e vales, tudo ali eram seus.

Todos os animais caminhavam ao seu lado,
E ele achava isso bom.

As estações lhe mostravam a árvore do Paraíso
E ele conhecia o seu secreto esplendor.
Sabia guardar distância e reverência, 
Assim como aprendera.
Sentia-se livre e feliz 
Dentro daquele universo de mansidão.
Até que alguma coisa urgente 
Começou a nascer em seu coração.

E Deus vendo esse homem na sua quietude,
Envaideceu-se, pois achou que era bom esse silêncio.
Só estranhou um pouco quando o homem
Entregou-lhe uma costela, com olhos sonhadores,
E repleto de esperança!

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