segunda-feira, 21 de maio de 2007

O Cavalgar de Alskabarkan


Pintura de John Collier

Envolvo Alskabarkan
Em sedas do Vale do Nilo.
Teço para ele
Um manto brocado de sonhos,
Para que possa atravessar comigo,
O rio mais profundo.

Ele está pronto.
Despede-se numa noite de breu.
Seu perfume, suas flores e seu reflexo,
Diziam adeus!

Voltei-me um instante
Para contemplar
Sua imagem resplandecente.
Suspiramos juntos ao ouvirmos
A orquestra de pássaros
Que deixamos para trás.
Ele ainda não sabia,
Mas tornaria ao paraíso.

Os cavalos selvagens
Estavam a nossa espera
Numa nuvem de poeira.

Atravessamos juntos
O rio das tormentas
De irascível fertilidade,
E banhamo-nos
Com a vertigem de nossos corpos,
Nessas águas ofuscantes.

Ele vai ereto, triunfante,
Seu corpo amalgamado
Em flama ardente,
Queima ao meu contato.

Eu seminua, branca,
Lavrada em mármore,
Sou um corpo quente e silente,
Esperando para doar e tomar.

Alskabarkan retira da bainha
Sua espada latejante
De poder púrpura,
Penetra no átrio,
Senhor dos movimentos.

Encolho-me à sombra
De sua proteção,
E entre braços de gotas luminosas,
Vejo chegar sua força de rei.

E fui água fervente
Em suas coxas de cedro.
Cravei meus dentes alongados
Junto aos seus cabelos.

Minha carne foi feita e desfeita,
Até dobrar-se com uma haste,
E quando a escuridão
Acolhia-me em seu seio,
Ouvi cascos de cavalos
Que rondavam a soar
O pavimento de meu palácio...

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