quarta-feira, 16 de maio de 2007

Dois Irmãos

Pintura de Odd Nerdrun

E Abel ia com suas ovelhas
Para o campo mais verdejante.
Em paz consigo,
Tocava sua flauta de caniço.

Ali era o seu esconderijo,
Ali ficava com seus segredos.
Tinha alma grandiosa
E procurava o caminho
Para se engrandecer no Senhor.

Mas Deus quis lhe fixar
Um dia para o termino desse olhar.
E assim fez.

Quando Abel voltava à sua casa
No fim da luz do dia,
Não percebeu um vulto
Que se escondia na agonia.

E foi esse vulto
Que lhe apagou o presente
E todo o seu futuro.

E no fundo da noite,
Abel ficou calado
Pensando como foi
Acabar-se junto com o dia.

Com muito jeito
Caim subiu para o leito
E deitou-se virado para a parede.
Foi virando bem devagar
E se pôs a fitar miríades
De microscópicos pontos
Coloridos, disseminando-se
Na escuridão do quarto.

Caim só se atormentou
Quando Eva lhe perguntou:
Viste Abel, teu irmão?

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